Ele não me quis. Eu apareci para salvar uma estrutura que estava ruída e me insinuei como uma possibilidade de recomeço. Mas ele queria um macho, e eu nasci quebradiço, assexuado. Ele queria que eu o acompanhasse nas suas simplicidades diárias, mas eu nasci de cesária. O tempo de gravidez ja havia passado e eu nem dava sinais de sair dali. Nasci de boca aberta. Sempre achei que o motivo de eu respirar pela boca é porque só a abertura do nariz não é capaz de puxar todo o ar que eu preciso para não morrer asfixiado nos meus pulmões mal formados. Por estas histórias sempre transitei livremente em um campo ficcional, ora para me esconder, ora para me declarar. Com ele, pela primeira vez na vida, eu senti um amor natural, mas o mundo exterior tem pressa demais. E é mais prático demolir uma construção. Estes dias ele me ligou dizendo que fazia tempo que não falava comigo e eu não pude conversar e nem liguei de volta depois. Ontem meu olhar se liquefez naquela esquina, e ali toda a água, que tem jorrado de mim nestes ultimos dois meses, cessou. Eu entendi. Não é questão de ser pai, ou companheiro. É só que eu nunca fui capaz de ser criança contigo para curtir o beabá da vida. Já sinto saudades. Feliz dia das crianças, meu amor!
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