Mãe foi feita para nos fazer sentir saudades, porque mãe é composta de tempo. Mãe é cronológica. Ela demarca cada vírgula da sua história. E mesmo quando tentamos fugir dela, a danada está na pele. Está na sustentação de todo e qualquer raciocínio. Somos costelas, arrancadas de seus colos. Quando vejo mãe confundida com filho, me assusto. Eu sei que a extensão do seu sufoco sempre respingou em mim. E você não queria falar, para nos poupar, mas acho que você apenas não conseguia dizer mesmo. Não tem escapatória. A mãe está viva e reage. E toda reação, ação, ternura e boca fechada, pinga. Leite parado dá nata, e daí você escolhe, se mexe esse leite, se tira a nata ou se toma tudo junto. Gostava de fazer papinho no seu pescoço. Quando eu cresci, você não deixou mais. Eu cresci sim, mamãe, e fiquei do tamanho de um monte de gente pelada. Ontem você fez muita falta! Mãe, eu fiz um livro, a partir da sua pele.
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