Eu tinha que recolher as gérberas que morreram. Daí quando fui tirá-las da sacada vi uma foto 3×4 da minha mãe no móvel da sala. Nunca fotografo flor ou paisagem, só gente. Peguei a máquina e fui retratar a natureza morta. Não consegui. Afundei-me com mamãe nas águas leitosas daquelas flores fúnebres e chorei. Fazia tempo que não derramava este leite. Enquanto publico compulsivamente fotos de genitálias, vejo a matéria da Folha que saiu sobre o meu trabalho, e lá encontro a palavra-chave: afetividade. As flores foram jogadas no lixo, o cachorro deu umas lambidas porque o leite era de coco, e a saudade da mãe continua. Mas agora tenho certeza, o tamanho do meu desejo ficou ainda maior. Não vai caber em mim, então me derramo em vocês.
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