Marina

Nós seguramos suas mãos ao atravessar a rua. Nosso nome não é nome de rua. Te esperamos pro primeiro dia de aula. Te mostramos na lousa que o horizonte não é tão pequeno. Lavamos a louça, organizamos a banda, a varanda, o regime das plantas, a agenda, a merenda. Estamos fazendo o check in do teu próximo voo. Desenhamos voos. Voamos. Oferecemos os melhores planos de conexão e tv a cabo (a ligação está sendo gravada e há uma mulher anotando seu pedido). Programamos sistemas. Rompemos sistemas. Sustentamos sistemas. Odiamos o seu sistema. Limpamos sua bunda quando criança. Dançamos com vocês na adolescência. Cozinhamos o feijão da tua existência. Levamos o Brasil no lombo. O mundo no fundo do peito. Somos as chefas das cozinhas e das famílias. Dos governos e dos terreiros. Tua mãe te pariu e teu pai sumiu. Tua avó te adotou e tua irmã foi quem te cuidou. Tua tia não te deixou. Tua companheira te aguentou. A gente segura todas as bainhas e barras. Costura tuas calças e alças. Escrevemos todos os capítulos da HISTÓRIA. Essa que foi queimada em pilhas nas chamas de tantas fogueiras. Morremos vivas nas fogueiras. Somos as guerreiras de todas as sagas. As heroínas, as parideiras. E se você não tem uma saga, também vai precisar de nós pra ter uma. Nós te contamos as primeiras histórias, lembra? Nós estamos em toda parte, incluindo todas as suas memórias.

Parte II – A Revolução Menstruada por Natalia Nolli Sasso