Fruição

‘O pastor disse que ele tinha que me curar’, ele comentou com sua professora. Ela disse que o pastor estava errado. Mas aquilo não era possível, o pastor não erra. O problema da educação é que agora eles falam – disse ela. Numa descontextualização essa informação soou preocupante para o menino que vivia de branco. Como eu falo se nem sei o que pensar? Queria não ser gado. Eles me contam coisas, brigam comigo, tapam as minhas laterais e querem que eu seja de uma carne boa. Carne tenra para ser comida. Eu não posso dar meu cu, mas eles podem me comer. Falavam muito sobre cus, eu me assustei. Jogavam biribinha de pimenta ardida e projéteis de borracha. Dentro da sala de aula é um educador e mais de 30 iniciantes. O que fazer? Prefiro observar e procurar respostas para tudo que não sei. Cansei de procurar pessoas. Porque sou fraco, e se ela fala mais forte, eu concordo, e sigo. Não quero ser ovelha. Tosada, pelada. Arrancam meu pelo e se bobear também me comem. Mas não tem problema se o sexo gay for feito, ele só não pode ser declarado. Se fizermos um pacto de não contar para ninguém que fazemos troca-troca tudo bem, não precisaremos tomar o remédio. Fica quietinho, abaixa o shortinho, que Deus não está vendo. No colégio, me instruíram: se você banca a discussão vai com as dez, senão fuja da raia. Eu ando meio perdido, falaram que não entendo nada de política, e eu respondi mugindo. Sou uma vaca que sem saber, ando procurando não sei o que. Às vezes beijo, às vezes durmo, choro, me penteio. Mas continuo observando – dizem que tudo está estranho demais. Para mim sempre foi.