Desconstruindo Edgar – parte III

Ela comprava melancia e ele, à surdina, comia só a parte de cima, que não tinha caroço. Ela ficava irritadiça. Quando o Danone sumia, ela sabia que tinha sido ele, então ela travava a mandíbula, apertava os olhos já tão diminutos e berrava para dentro. Quando chegávamos a casa e ele já estava o clima mudava. O resto do dia não seria mais interessante. Eu nunca soube se era pior ele estar no lugar, ou não estar, pois existia uma tensão também para a espera da sua chegada. O que teria acontecido no Jaú? Ele teria bebido um pouco além novamente? O apartamento era um platô, quando nós estávamos de um lado, ele estava do outro. Caso ele se aproximasse a base poderia cair. Nossa vida era uma bandeja de garçom. O Jaú é um local com campo de futebol e bar, e a minha casa é um local de farrapos de Edgar.