Desconstruindo Edgar – parte I

Tenho medo da sombra do Edgar. Esconderijo de plenitude – só a ele amei. O que veio depois foi o que me restou, catar papel no vento para não ser titia. Ele não me quis mais ou eles que não me querem? Por ser feio, gordo, bicha-velha demais. Mudo meu corpo, mudo minha casa e saio para viajar, mas a cãibra no peito continua. Tem tinta e papel de parede respingados em toda a casa. Edgar foi o pai do meu irmão que não nasceu. Meu irmão seria lindo, bem sucedido, malhado e negro. Seria tudo o que eu não sou. Mas comecei a acreditar em vida pós-parede, então eu não esperarei passivamente Edgar chegar. Vou atrás dele, com muito medo, mas ei de achar esse homem, e dessa vez ele não escapa, ou será amor ou será morte. Ele me abandonou por uma menininha, mas eu voltarei com a folha do mandado de prisão na mão.