meninos iriam carregar sorvetes. meninas algum outro doce. era uma apresentação no pré-primário. eu tinha 6 anos. o único que não faria parte disto seria o escolhido para ser o bombom. e já estava tudo certo. não seria eu. óbvio que um dos motivos do meu profundo interesse em sê-lo era pelo ego inflamado em ser o personagem título da música da Xuxa, mas também me atraia o fato dele ser o primeiro da fila e ser misto, carregava tanto a fila de meninos como de meninas. eu queria ser o bombom porque ele era híbrido. para conquistar aquilo eu aceitaria, se fosse necessário, andar de quatro sendo arrastado pelo cabelo por horas. eu aceitaria calado loiras gostosas pingando cera de vela no meu corpo. eu toparia chupar um bagre em piscina de limpeza discutível. eu desvendaria até o seu membro já conhecido entre frestas de uma meia-arrastão. eu confundiria os nossos glitters com o sua insistente pintura facial preta feita a base de óleo. e eu faria tudo isto para que existisse aquele momento, logo depois da apresentação do tecido, onde nos declaramos, baixamos as guardas e entendemos que somos mais do que classificações desesperadas. somos o bombom um do outro puxando filas de necessidade de dar sentido a vida e pouco ligando para elas. a professora me puxou em um canto e disse que o menino que faria o bombom havia faltado e se eu podia substítui-lo. fiquei atrás de uma porta vestido com papel celofane. eu te amo. a felicidade está nos cantos.
You must be logged in to post a comment.