Ele estava voltando de Santa Catariana, e no avião pensou que parecia que a partir dali tudo iria mudar. Ele chegaria para passar o ano novo com a recém conquista. Mas assim que ele chegou a São Paulo, recebeu a notícia que a mãe do menino havia infartado e ele pensou se devia ir ou não ao hospital, pois eles se conheciam tão pouco. Mas mesmo assim ele foi. Chegando lá, me encontrou e não me largou, por dois anos. Não poupou amor. Enquanto eu ficava regulando afeto. Neste ano eu não o vi, nenhum dia. Ele preferiu não ser borboleta encarcerada em quadro de colecionador.
Ele pegou uma manga e a devorou, enquanto cantava. Fez beicinho de sexy e mostrou suas tatuagens. O jogo era o seguinte: quem estava em cena tinha que escolher alguém da plateia dar um beijo na boca e morrer depois. Ele me escolheu, me encostou na pilastra e colocou sua língua dentro da minha boca. Eu levantei o braço para segurar sua cabeça, mas lembrei de que aquilo era cena, não pegação. Encerrei o gesto no meio. Então ele morreu.
Ele gostava de mim porque eu não era marginal. Eu era menina de família, intelectual. Ele gostava de mim porque além das minhas pernas torneadas, eu provocava os seus quereres. Ele gostaria de ter acordado comigo, ter assistido filme. E eu depois de cada transa, queria que ele fosse embora, porque a peruca coçava demais.
Ele brigou porque eu tinha um cavalo rosa. Neste ano recriei a cena. Ele brigou e eu parti para um canto e fiz trança embutida na crina do cavalo. O cavalo não era pequeno, era muito maior que as minhas mãos de criança. O original se perdeu. E o novo que veio representar o antigo agora canta. Sempre que abaixamos sua cabeça, ele submisso, canta. E meu pai não pode dizer nada, porque ele está sujo de água de rua.
Nos conhecemos nas rampas do metrô. Depois fomos comprar vinho e pães. Bebemos, comemos, e nos comemos. O cachorro estava no meio. E o que não era para subir, naquele momento desobedeceu. Eram só fotos. Quase choramos sentados no escritório. Dois órfãos de mãe. Um encontro fulminante e hoje ele está namorando uma menina. A última vez que eu o vi ele estava chupando chupeta, para não travar os dentes.
Toda terça-feira as 15hrs. Ele tem nome de homem e de mulher. Ele aparece com um semi sorriso, me abraça, e caminhamos em direção a sua sala. Coloco o celular para carregar. Jogo a mochila no chão. Ele pega a prancha com sulfite e começa a sessão de terapia. Falo do menino do balé, do peixe, do muso. E falo das projeções. E sempre cai no pai e na mãe. 1 hora depois me despeço. As ruas da Vila Mariana, neste ano, tiveram muitas formas e gostos.
Ele quer usar máscara. Tampar o rosto. Ficar excitado sem expor sua identidade. Ele quer ser primitivo, devasso, revoltado. E toda vez que eu tendo prendê-lo ele dá um chega para lá. Corta o papo brusco. Porque se ele é bicho, ele não é de ninguém. Não pedi um animal de estimação, pedi para ele ser selvagem. E ele cumpre o papel da maneira mais enlouquecedora possível. Ele é meu sexo tântrico e minha platonice.
Um estava bêbado, o outro também. Ele me apresentou para o outro sendo eu o primeiro. Mal sabia eu que o outro era o outro do meu outro. E muito naturalmente nos catamos. Era boca, curva da coluna, olhares, já conhecidos. A amiga se espantou com a ação tão retrô. Tão muitos anos atrás. Mas ora bolas nós ainda estamos na ativa. Mesmo que a posição ativa sempre será curiosa para ambos. Meu amor está no livro. E na capa está o nome dos dois. Confesso que já quis esmigalhá-lo, mas hoje em dia esse bolo sempre será de parabéns.
Ele é daqueles sem muitas inseguranças, porque eu não sou dele. O que eu quero é estar com ele, sem muito mandar, sem muito pedir. Ele me deixa livre porque o que eu gosto é de pele, e ele também. Mas mesmo que ele encontre outras bocas, ele sempre volta. O que eu tenho não é só brejeirice safada, eu tenho colo arqueado e espaço que permite ele ser ele também, coexistindo. O que acontece é que sempre que a gente se encontra o tempo dá uma brecha para que possamos perceber o quanto nos fazemos bem.
Eu o amo porque ele me sossega quando chego esbaforido. Porque ele veste saia e fala grosso. Eu o amo porque ele fala do seu amor e diz que não precisa de muito mais. Ele é livre e apaixonado. Eu o amo porque respeito seu corpo e cada curva de seus pelos. Meu mundo se acalma com seu olhar de maconhado e seu sotaque semi neutralizado. E se eu digo que amo, não é amor do platonismo, ou da rejeição, e muito menos da formalização. É amor respeito, amor tesão, amor inspiração. Querer o bem faz muito bem e a expressão não faz mal a ninguém. Se isto então for recíproco, é onde eu morro de paixão. Feliz 2013 rabiscado e intenso para todos!
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