Existia uma linha que dividia o hall do meu prédio. Eu, Mariana e Paulinho brincávamos que um era o dono da linha e os outros tinham que atravessa-la. Caso o dono da linha pegasse um deles, seria o novo dono da linha. Essa brincadeira é até hoje meu símbolo máximo de uma criança de apartamento. O espaço para brincadeiras era um cubo de concreto. O pai de Paulinho era mais severo, brigava conosco se fizéssemos muito barulho. Então o jogo teria que ser comedido também. Quando dava fugíamos para outros espaços do condomínio. O pátio era rodeado pelas janelas dos vizinhos, que na sua maioria eram idosos que odiavam os gritos da criançada. Quando brincávamos de esconde-esconde um dos meus lugares preferidos, era um buraco localizado atrás do bloco C. Ficava lá por um tempo, em silencio, esperando alguém me encontrar. Enquanto isso minha mãe contava de suas desventuras no sitio em Garça, subindo em árvores e sujando a roupa de terra. Eu acho que a razão de ter encontrado o nu se origina nessas linhas tão geométricas da minha infância. Mariana e Paulinho agradeço imensamente pela infância compartilhada! Conseguimos humanizar tudo o que era tão estéril para nós. Graças a vocês, nunca mais uma linha será apenas uma linha.
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