GORDA – por Fernanda
Sempre fui gorda.Toda vida, ouvi o quanto eu era linda, mas que precisava emagrecer. Minha família é em seus 90% de gente gorda. Gente que como eu, é obesa, ou acima do peso, mas que mesmo assim, optava em me dizer que eu seria mais bonita se fosse magra. Contradição. Achava um saco. Eu sempre fui a rebeldezinha, que me trancava no quarto pra não ouvir asneira, porque nem sempre tinha disposição pra ficar argumentando sobre meu corpo. Aos 16 anos, decidi que eu era sexy. Decidi que ia por decote, pra mostrar meus peitos, pra me sentir bonita, e sabia que se os meninos me desejassem, eu ia ter argumento pra acabar com essa hipocrisia familiar. Não é esse o viés correto pelo qual devia amar meu corpo, mas essa foi a arma que usei para aprender a me amar, e me sentir linda. Hoje, com 26, me politizo, leio coisas, participo de debates, e sou militante anti-gordofobia. Sou problematizadora mesmo. Com muita certeza, digo que amo que cada dobra, cada espaço, cada mancha do meu corpo, sabe por que? Porque ele é meu. É meu templo sagrado, é o lugar onde guardo minhas experiências, é nele que eu resido e sinto. Sinto tudo. E quando as pessoas vem com aquele papo: e a saúde? Eu digo: não interessa! Cuidem de vossas vidas, e me deixem aqui ser feliz. E sejam felizes também, pois gente feliz não enche o saco.
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