Eu, professor da minha mãe

Minha mãe fez um curso livre de teatro nesta mesma oficina, onde hoje eu dou aula de fotografia. Minha mãe contava histórias dos exercícios de voz, de corpo e de compreensão de texto. No dia da sua apresentação ela não quis que ninguém além de mim fosse. E lá estava eu, em uma manhã, no meio da semana, assistindo minha mãe recitar poemas. Agora era eu no lugar de plateia, como fã apaixonado daquela mulher. Ela disse seu texto, um pouco mais baixo do que o normal. Ela falava assim, baixinho. Mas disse o texto certo, sem errar. Os outros alunos gaguejavam, se empurravam, fazendo um jogral muito louco. Antes de ela morrer, estava planejando, para sua recém-aposentadoria, iniciar novos cursos. E agora, toda quarta-feira, eu me levanto da mesma cama que ela dormia caminho pelos mesmos lugares que ela percorria e encontro queridos alunos, que contam histórias de amor, tristezas e diversões. É sempre muito bom. Manhãs de quartas-feiras são dias de lembranças de Madalena.