Eu tinha 16 anos. Eu estava uma tarde no shopping e pensei: e se eu me prostituísse? e se o gerente do shopping me convidasse para lhe fazer um boquete por dinheiro? vislumbrei todos os detalhes da aparência dele, da sala em que fizemos o ato, e de como reagi. Naquela época não tinha nem transado, tinha dado o meu primeiro beijo a pouquíssimo tempo. No dia seguinte cheguei na escola com uma cara atônita. Os amigos mais próximos perceberam que algo havia acontecido. Contei sobre o meu ato. Não o inventado, mas aquele que eu já acreditava que havia de fato ocorrido. Um leve burburinho aconteceu entre os amigos. Eles até entenderam o motivo: eu, como um interessado nas representações da vida, precisava de experências provocadoras. Contei também para o menino que eu estava saindo. Ele queria socar a cara deste tal gerente e chorou de raiva trancado em um banheiro do mesmo shopping do sexo oral, interpretado. Nunca mais me prostituí ficcionalmente. Logo depois comecei a fazer teatro. A primeira peça que fiz eu era um garoto gay enfeitiçado por bruxas que impediam a realização de um grande amor. Vivi assombrado por esta história. Sempre a levei em terapias. Me achava um falso crônico. Peço desculpas a todos por não ter tomado cuidado, ter infringido este abismo que nos divide. Eu acredito demais em mentiras e em feitiços, praticados nas artes e no nosso dia-a-dia.
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