Uma vez por ano a escola contratava um fotógrafo para retratar cada aluno e vender para os pais. Não era comum este incessante e ilimitado registro que vemos hoje em dia. Cada aluno só tinha direito a um click. Neste ano não soube aproveitar bem o momento. Meu olho ficou semi-cerrado, meus dentes haviam caído. Eu tinha 7 anos, e nesta mesma época ele estava nascendo em outro estado. Me disseram que eu fechei os olhos pois naquele momento ele vinha ao mundo. E na minha feiura é possível ver rastros de comoção. Minha mãe obviamente comprou a foto e este foi o único registro que tive deste ano fatídico. Vinte e seis anos depois enquanto ele se debatia reflexivo sobre os meus afetos, eu declarei minha paixão pelos seus momentos inacabados, quase retornando para a fábrica. Minha mãe contava a história do lugar onde se fabricava gente e que eu tinha nascido lá, mas todo errado, e foi ela que me consertou. Ressurgi em glitter do seu rabo de sereia. No ano seguinte tentei sair melhor na foto, mas nada é mais genuíno do que os nossos momentos não preocupados em nos enquadrar nas poses perfeitas.
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