Clementine queria apagar trechos da sua memória, não aguentava tantos dissabores. Hoje li o que Rubem Alves disse sobre a saudade. ‘Ela é a nossa alma dizendo para onde quer voltar’. Eu sempre repito: morreu, morreu. Talvez porque a morte em mim seja algo compartilhado já no meu nascimento. Nasci com uma saudade imensa do que poderia ter sido a minha infância, meu pai, minha irmã. Cresci com a morte me carregando. Eu nunca fui fruto de começos. Eu marco fins, transições. Ontem descobri que eu sou estranho demais para encantar a primeira vista. Sou um gosto adquirido. Só sei que no meio dessa saudade que me descontrola, justamente por essa alma não saber qual é esse lugar, que eu digo para você Clementine: apaga não! Suas histórias são o seu tesouro, mesmo que às vezes ele não valha nada. Morreu, morreu sim. Mas poucos sabem que o meu morrer se refere a minha vida ordinária. O gosto que se adquire quase sempre provoca reações.
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