A primeira peça que eu fiz

Em um curso livre de teatro, com 17 anos fiz uma cena em que eu me declarava para um homem, que havia sido sequestrado por bruxas. Logo depois fiz um homicida gay em cadeira de rodas. Até na commedia dell’arte meu capitano espanhol desmunhecava. Já fiz peça de salto alto, com várias trocas de vestido. Já falei sobre religião, em outra, e meu diabo era afetado. Daí comecei a fazer infantis, virei palhaço, caipira, cordelista, e até menino mudo que empina pipas. Mas foi na criadagem que me estabeleci, fui criado de Don Juan e o do Inspetor Geral. Em cenas de faculdade uma noiva me beijou e dentro de um prostíbulo fui juiz que foi mijado. Das memórias queridas, lembro-me do Gabriel com um pulsátil amor, do velho bêbado que não está tintindo nada e do obstinado Formiguinho. E depois de tantos, me vejo aqui, tão exposto, tão eu. Tão acuado diante de tantos pelados irascíveis. Mas gosto de encontrar começos. Vitor feliz na sua primeira peça. André feliz de ter começado se declarando para um homem.